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Linha das Crianças na Umbanda: uma crítica a limitação humana aos seus trabalhos espirituais

O que faz com que  um Erê de Umbanda precise ser uma entidade dependente das demais e não possa realizar trabalhos diversos por si só, isto é, sem "supervisão" de um Caboclo ou Preto-Velho?

O que faz com que um Erê de Umbanda não possa fazer trabalhos de prosperidade?

Idem, para desmanche de magias negativas?

Idem, para  diversas  coisas de cunho "material"?

Qual o motivo pelo qual os Erês precisem ser entidades limitadas?

Qual o motivo pelo qual muitas vertentes teológicas de umbanda engessem o trabalho da linha das Crianças?

Quais as evidências concretas para o engessamento?

Evidências? Quais são as evidências?

Livro não é evidência. Argumento de autoridade (isto é, meu pai de santo disse, meu Guia disse...) não é evidência. O  fato de um erê ser assim não é evidência. Afirmar por afirmar não é evidência.

Quando pensamos numa teologia livre e pensante, a questão da linha das Crianças é algo intrigante. Parece que o mesmo tabu colocado sobre a esquerda.  no que tange a independência do trabalho espiritual na Umbanda, também é colocado sobre os erês. Vemos literaturas diversas afirmando que as crianças precisam de  estar acompanhadas de pretos velhos e caboclos para seu trabalho, pois estes são seus "mentores". Vemos literaturas afirmando  que as crianças são  espíritos limitados, que não trabalham para temas mais "materiais", que não tem livre-arbítrio, que  não tem malícia, que estão abaixo dos humanos em "grau de  evolução espiritual". Vemos a grande maioria da literatura umbandista limitando estes espíritos ao que querem que eles façam/hajam, e assim por diante.

Eu discordo  da limitação do  trabalho das Crianças na Umbanda. Neste artigo não irei contra-argumentar algumas dessas ideias, não pretendo esgotar o assunto, mas ressalto: eu discordo da limitação do trabalho dos Erês na Umbanda.

Na verdade, eu penso que nós entendemos muito sobre estes espíritos.  Por entendermos pouco não  temos o direito de limitá-los. Na minha compreensão, as Crianças constituem um mistério pouquíssimo compreendido religiosa e teologicamente na Umbanda. Eu admito minha total ignorância  sobre eles.

Tentamos enquadrar as Crianças em padrões de lógica, mas eles desconstroem a lógica em seus trabalhos. Erês são entidades que parecem ser de uma dimensão diferente da nossa. Por isso não tenho capacidade mental  de impor uma limitação arquetípica a estes espíritos. 

Ora, mas não é possível que uma criança que faleceu em tenra idade seja um espírito que trabalhe num terreiro. Ora, mas não é possível que um espírito evoluído "regresse" a roupagem infantil para trabalhar na umbanda. Ora, mas.... tantos argumentos lógicos, que no fundo parecem contradizer pontos da experiência com tais espíritos. Diante disso, eu assumo minha ignorância frente a eles. Sou um ignorante frente ao trabalho  espiritual  dos Erês, mas  admito também meu profundo respeito e desejo de aprender cada vez mais.

Para Romes (eu), a linha das Crianças é uma linha E N C A N T A D O R A! Fantástica! De tão encantadora e fantástica eu só consigo me colocar no papel de aprendiz genuíno de seu axé.  Não consigo ainda teorizar argumentos sobre eles. É muito bom admitir a ignorância, o copo sem conteúdo, a tábula rasa. É excelente, pois assim estamos abertos ao que estes espíritos nos trarão. Estamos abertos, e  não limitados. Estamos  dispostos, e não recuados, teorizando, teorizando, teorizando sem evidências.

A discussão  sobre  evidências  em teologia de umbanda deixo para outra oportunidade. Hoje quis abordar pontos essenciais da minha visão teológica sobre as Crianças na Umbanda. Para mim, temos uma Linha magnífica que transcende a nossa compreensão material e lógica, e  que, sim, Criança PODE....

Trabalhar sem "supervisão"....

Trabalhar para prosperidade...

Trabalhar em quebra de demanda...

Trabalhar em assuntos "materiais"...

Chefiar trabalhos...

Afinal, quem sou eu para dizer que não pode?

Salve Mariazinha, Aninha, Pedrinho, Joãozinho, Zezinho, Marianinha, Ritinha, e taaantos outros espíritos magníficos!


Conheça, debata, discorde, argumente...

Teologia é exercício de razão.


Romes Bittencourt Nogueira de Sousa

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